Por que só consumimos 0,06% das plantas comestíveis do planeta?

frutas

Das cerca de 300 mil espécies de plantas comestíveis que existem no planeta, consumimos menos de 1%.

As feiras livres e quitandas de muitas cidades, não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina, são uma explosão de cores e sabores.

Formas estranhas e cheiros desconhecidos contribuem para uma variedade espantosa de verduras, frutas e legumes.

Mas, por mais variadas que possam parecer estas espécies e por mais próximas – uma ida ao supermercado do bairro basta para comprá-las – estes produtos representam apenas uma fração mínima das espécies que podemos comer.

Não é uma falha dos supermercados e feiras.

O fato é que das 400 mil espécies de plantas que existem no mundo, cerca de 300 mil são comestíveis. E, destas 300 mil, consumimos apenas cerca de 200.

E, a maioria das proteínas que consumimos e têm origem nas plantas vem de três cultivos: milho, arroz e trigo.

Mas, se as opções são tantas, por que a humanidade se alimenta de apenas 0,06% das plantas comestíveis?

“Até agora, a explicação sugeria que fazemos isto para evitar o consumo de plantas tóxicas”, disse à BBC Mundo John Warrer, professor de botânica na Universidade de Aberystwyth, na Grã-Bretanha, e autor do livro A Natureza dos Cultivos.

Para Warren, o argumento não tem fundamento.

“Muitas das plantas que comemos são originalmente tóxicas, mas, com o passar do tempo, nós e outros animais encontramos formas de lidar com estes componentes tóxicos.”

O botânico se refere aos processos de domesticação que foram eliminando as substâncias venenosas nas plantas e também aos procedimentos como cozimento, que tornam uma planta digerível.

“Na verdade, fazemos isto pois escolhemos deliberadamente comer plantas que têm uma vida sexual muito tediosa”, afirmou.

A vida sexual previsível, segundo Warren, é o que garante o sucesso de uma planta como cultivo em larga escala.

E previsível, neste caso, significa uma planta que se reproduz por um mecanismo de polinização muito generalizado, que pode ser o vento ou os serviços de insetos como as abelhas.

Os dez mais

As orquídeas são exemplos mais óbvios na hora de explicar a razão de uma planta com vida sexual complexa não ser boa para ser domesticada.

“Elas são as pervertidas do mundo das plantas. Têm flores e hábitos sexuais estranhos”, diz Warren.

Existem cerca de 20 mil espécies de orquídeas, e muitas poderiam ser boas como alimentos. Mas, cultivamos apenas uma para o consumo: a orquídea da baunilha, cuja polinização, feita manualmente, é viável somente devido ao seu alto valor de mercado.

A razão pela qual não cultivamos mais orquídeas, segundo o professor, é “que elas têm uma vida sexual esquisita”.

Para se reproduzir, estas orquídeas devem ser polinizadas por uma espécie específica de inseto e, tanto este quanto a orquídea, dependem do outro para sobreviver.

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Para Warren, no futuro devemos cultivar plantas de menor valor nutritivo, mas que precisam de menos fertilizantes.

Fonte: BBC